Quando se fala em corte de gastos no governo federal, é fundamental observar de forma crítica os reais destinos do dinheiro público. Não se pode exigir austeridade apenas em áreas sensíveis como saúde, educação e programas sociais, enquanto outras esferas do poder mantêm ou ampliam seus privilégios.
O Orçamento da União para 2025 prevê impressionantes R$ 62 bilhões apenas em emendas parlamentares. Esse recurso, muitas vezes direcionado com pouca transparência, serve para alimentar acordos políticos e garantir base de apoio ao governo, enquanto outras áreas vitais sofrem com contingenciamentos.
Como se não bastasse, a Câmara dos Deputados aprovou recentemente um projeto que amplia o número de deputados federais de 513 para 531. Em um país já saturado por gastos com a máquina pública, a proposta representa um aumento direto nas despesas do Legislativo, sem qualquer garantia de melhoria na representatividade ou na eficiência parlamentar.
Outra medida polêmica parte do próprio presidente da Câmara, Arthur Lira, ao apoiar propostas como a de André Motta, que permitiria aos deputados acumular aposentadoria com o salário atual. Essa medida confronta o princípio da moralidade administrativa e contribui para o aumento das desigualdades dentro do setor público.
Esses privilégios vão além dos mandatos. Circula no Congresso uma proposta de gratificação de fim de ano para aposentados e pensionistas da Câmara dos Deputados. Um “décimo quarto” salário que, se aprovado, ampliaria ainda mais os privilégios de uma elite funcional sustentada com recursos da população.
Enquanto isso, o discurso público clama por contenção de gastos. Muitos parlamentares que defendem corte em benefícios sociais, reajuste do salário mínimo ou limitação de programas como o Bolsa Família, não demonstram a mesma disposição quando o assunto são os seus próprios privilégios.
A hipocrisia institucionalizada corrói a credibilidade do Legislativo diante da opinião pública. Não é razoável que se peça sacrifícios à população mais pobre enquanto se multiplicam os benefícios e as verbas destinadas aos próprios parlamentares.
É preciso lembrar que o orçamento público não é uma fonte infinita de recursos. Cada gasto extra com privilégios representa menos investimento em áreas essenciais, como infraestrutura, segurança, moradia e ciência.
Diante desse cenário, a sociedade deve se manter vigilante e cobrar coerência dos representantes eleitos. A verdadeira reforma fiscal começa com o exemplo, e ele deve vir de cima, com cortes nos privilégios e não nos direitos da população.
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