Falta de logística no multirão de saúde em Candeias

 



O multirão de saúde, em teoria, deveria ser uma estratégia eficiente para acelerar atendimentos, reduzir filas e oferecer acesso imediato a consultas e procedimentos básicos. Contudo, em Candeias, a realidade vivida pelos pacientes é bem diferente da narrativa divulgada pela gestão municipal.

O que era para ser uma ação de alívio e rapidez tem se tornado um processo demorado, desgastante e marcado por falta de organização. A promessa de atendimento ágil não se confirma quando as pessoas chegam ainda de madrugada e permanecem horas na fila sem qualquer garantia de serem atendidas.

Há relatos de pacientes que chegam às cinco horas da manhã, permanecem até as dez, nem sequer um copo de água relato de um paciente e ainda assim são ignorados ou deixados sem explicações. Esse é o caso de quem aguarda procedimentos do PSE, há quatro meses na fila, e mesmo assim enfrenta a frustração de não ser atendido no dia marcado.

A situação se torna ainda mais constrangedora quando pessoas com vínculos com funcionários do setor de saúde são atendidas de forma imediata, enquanto cidadãos comuns esperam por horas. Esse tipo de favorecimento mina a credibilidade do serviço e expõe um grave problema ético dentro da gestão da saúde pública.

Outro exemplo lamentável é a espera para consulta com dermatologista. Pacientes acumulados há seis meses aguardam pela profissional, que sequer comparece ao ambiente de trabalho no horário previsto. Enquanto isso, dezenas de pessoas permanecem sentadas, silenciosas, esperando algo que nunca acontece.

Falas recorrentes de usuários da rede municipal apontam que a logística do multirão em Candeias parece criada mais para propaganda do que para resolver os problemas de fato. Os números apresentados nas redes oficiais não refletem o sofrimento diário de quem depende da saúde pública.

A cidade arrecada milhões mensalmente e, mesmo assim, ainda recorre a multirões como se fossem soluções extraordinárias. O problema não está na ideia do mutirão, mas na incapacidade de organizar o básico: profissionais presentes, atendimento por ordem de chegada, respeito às filas, comunicação e transparência.

A falta de preparo dos funcionários também tem sido ponto de crítica. Muitos parecem não ter clareza de como orientar pacientes, gerar fichas, distribuir senhas ou oferecer informações básicas. Isso aumenta o estresse de quem já chega fragilizado e preocupado com a própria saúde.

Além da estrutura física limitada, há um despreparo visível na gestão interna. A ausência de supervisão eficiente permite que práticas como “furar fila” continuem acontecendo, sem punição, sem correção e sem qualquer postura preventiva por parte da direção da unidade.

A saúde pública deveria funcionar como um sistema organizado, humanizado e contínuo. Um multirão, quando bem executado, pode ser uma ferramenta importante. Porém, em Candeias, ele se tornou apenas mais um símbolo da desordem estrutural que domina a área.

Muitos moradores reclamam que a prefeitura investe mais em marketing do que em melhorias palpáveis. A divulgação de ações nas redes sociais prioriza fotos, vídeos e números, mas ignora a realidade dos corredores lotados, das filas gigantes e da ausência de profissionais.

Para quem observa de fora, parece que tudo está funcionando perfeitamente. No entanto, quem enfrenta o cotidiano das unidades de saúde sabe que a situação é muito diferente. O brilho das propagandas não reflete a luta diária de quem busca um atendimento digno.

A saúde de Candeias precisa de um plano permanente de fortalecimento da rede, não apenas eventos pontuais. É necessário ampliar equipes, garantir presença dos profissionais, melhorar a triagem, organizar o fluxo de pacientes e criar mecanismos que impeçam privilégios e favorecimentos.

Também é fundamental que a gestão municipal escute a população. As queixas são constantes, e ignorá-las apenas prolonga a crise. Transparência, respeito e organização deveriam ser valores básicos de qualquer administração pública.

O multirão, na forma como é realizado hoje, não resolve os problemas. Ele apenas mascara falhas profundas e prolongadas na estrutura da saúde de Candeias. Para que a população tenha um atendimento rápido e eficiente, é preciso muito mais do que eventos: é necessário compromisso real com a saúde pública e com o cidadão.

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