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Reajuste de 8% é maquiagem: servidores acumulam perdas de até 28% em Candeias


 

O prefeito de Candeias, Eiton Ramos, enviou à Câmara Municipal um projeto de lei propondo um reajuste de 8% para os servidores públicos efetivos. Embora o percentual possa parecer positivo em um primeiro olhar, ele está longe de compensar as perdas salariais acumuladas ao longo dos anos. Segundo dados de entidades sindicais e análises independentes, os servidores de Candeias já amargam uma defasagem de aproximadamente 28% em seus vencimentos, considerando a inflação e o aumento do custo de vida.

Esse reajuste, portanto, não representa um ganho real, mas sim uma tentativa parcial de recompor uma pequena parte daquilo que os servidores perderam com o tempo. A valorização do funcionalismo público vai além de um número apresentado em papel. Ela passa pela dignidade, pelo respeito e pela capacidade de garantir que cada servidor consiga manter sua família com dignidade. Com um dos menores salários base do estado da Bahia, Candeias ainda é lembrada, infelizmente, por sua incapacidade de oferecer uma carreira pública minimamente atrativa.

Além dos salários defasados, os servidores públicos municipais de Candeias não contam com benefícios que são básicos em muitas administrações. Não há plano de saúde, nem odontológico, muito menos a concessão de uma cesta básica. Essas omissões revelam o grau de abandono ao qual os trabalhadores municipais estão submetidos. São profissionais que carregam nos ombros o funcionamento da cidade e, ainda assim, são invisibilizados pelo poder público.

O contraste entre a realidade dos servidores e os números da arrecadação municipal é gritante. Em 2025, Candeias bateu recordes sucessivos de arrecadação mensal, chegando ao patamar de R$ 81 milhões. Com esses recursos, seria esperado que a administração priorizasse políticas de valorização do funcionalismo, melhoria dos serviços públicos e investimentos em infraestrutura social. No entanto, o que se vê é a estagnação dos salários e a ausência de investimentos concretos na qualidade de vida dos trabalhadores.

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Candeias segue abaixo da média estadual e nacional, refletindo a falta de políticas públicas eficientes em áreas como educação, saúde e geração de emprego. Enquanto o município se torna uma potência arrecadatória — fruto da presença de grandes empreendimentos industriais e do setor petrolífero —, a população local continua sendo excluída das oportunidades que o próprio território poderia oferecer.

Candeias, que já foi símbolo de esperança para muitos trabalhadores que migraram em busca de melhores condições, hoje se tornou exemplo de contradição. A cidade arrecada como um município de grande porte, mas investe como se estivesse no fundo do poço. Essa incoerência tem impactos diretos sobre a juventude, que cresce sem acesso a formação técnica, qualificação profissional ou perspectiva de inserção no mercado de trabalho local.

Ao negligenciar seus servidores, a administração de Candeias contribui diretamente para o ciclo de pobreza e estagnação social. O funcionalismo público, muitas vezes o único canal de ascensão para famílias da classe trabalhadora, está sendo desvalorizado sistematicamente. Essa desvalorização também reflete nos serviços prestados à população, que sente na pele a falta de incentivo, motivação e estrutura entre os trabalhadores públicos.

É urgente que o Legislativo Municipal analise esse projeto de reajuste com responsabilidade, propondo emendas que de fato atendam às perdas acumuladas. A simples reposição parcial da inflação não pode ser tratada como um favor do Executivo, mas como uma obrigação institucional de quem gere os recursos públicos. Candeias precisa romper com o ciclo da precariedade administrativa e passar a tratar seus servidores com a dignidade que merecem.

Se o município quer almejar um futuro com mais justiça social, desenvolvimento e oportunidades, é preciso começar por dentro: valorizando quem faz a máquina pública funcionar. Sem servidores respeitados, bem pagos e com acesso a direitos básicos, não há progresso que se sustente — por mais que as cifras da arrecadação tentem contar outra história.

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