CANDEIAS capitalismo tardio

 



Capitalismo Tardio: o retrato das contradições do nosso tempo

O mundo contemporâneo vive o que os estudiosos chamam de capitalismo tardio, uma fase marcada pela hiperconcentração de riqueza, pelo domínio das grandes corporações e pela dependência tecnológica de países em desenvolvimento. Esse sistema, que prometia prosperidade e igualdade de oportunidades, hoje mostra suas fissuras profundas: desigualdade social crescente, desemprego estrutural e crise ambiental global.

No cenário internacional, o capitalismo tardio é sustentado por uma economia digitalizada, especulativa e cada vez mais controlada por gigantes tecnológicas. Empresas que valem trilhões de dólares determinam o rumo de nações, influenciam governos e moldam comportamentos de consumo. A lógica do lucro imediato sobrepõe-se ao bem-estar humano, e a competição substitui a solidariedade como valor central.

No Brasil, essa realidade assume contornos ainda mais desafiadores. O país vive um paradoxo: é uma das dez maiores economias do mundo, mas enfrenta graves problemas sociais. O crescimento econômico não se converte em melhoria real de vida para a maioria. A concentração de renda e o poder político de grupos econômicos reforçam um modelo de dependência, em que poucos ganham muito e muitos vivem com quase nada.

A Bahia reflete esse quadro nacional. Apesar de abrigar grandes polos industriais, portuários e energéticos, a desigualdade regional é gritante. Regiões ricas convivem com bolsões de pobreza extrema. A infraestrutura precária, a falta de políticas públicas consistentes e a dependência de transferências federais tornam o estado vulnerável às crises econômicas globais.

Em Candeias, essa contradição é visível e dolorosa. O município figura entre as dez cidades mais ricas da Bahia, com um PIB superior a R$ 6,8 bilhões, mas enfrenta problemas estruturais típicos de cidades pobres. O dinheiro circula, mas não chega à população de forma justa. A riqueza gerada pelo setor de petróleo e energia beneficia poucos, enquanto a cidade sofre com baixos salários, precarização dos serviços e falta de planejamento urbano.

O capitalismo tardio em Candeias se manifesta no abandono da política social e na priorização de interesses econômicos imediatos. Projetos de longo prazo são substituídos por ações de marketing político. A cidade cresce economicamente, mas regride socialmente. O progresso virou estatística, não realidade.

A lógica capitalista também invade o cotidiano das pessoas. O consumo passou a definir status, e não necessidade. Famílias endividadas vivem para pagar contas, enquanto o poder público não cumpre sua parte em oferecer qualidade de vida. O trabalho, antes símbolo de dignidade, se torna instrumento de exploração em um mercado sem garantias.

Na educação, o reflexo é trágico. Jovens de Candeias e da Bahia enfrentam escolas sem estrutura, professores desmotivados e currículos que não dialogam com as transformações do mundo. O capitalismo tardio, ao invés de libertar pelo conhecimento, aprisiona pela falta de oportunidades.

Na saúde, a lógica do lucro também avança. Hospitais públicos sobrecarregados convivem com clínicas privadas que lucram com a dor humana. Em Candeias, a falta de gestão eficiente e de fiscalização faz com que a população dependa de serviços precários, mesmo em um município com alta arrecadação.

A crise ambiental é outro retrato do capitalismo tardio. Indústrias poluentes, ausência de saneamento e desmatamento urbano mostram que o lucro continua acima da vida. A cidade cresce sem planejamento, e o impacto ambiental recai sobre os mais pobres, que vivem em áreas de risco e sem infraestrutura.

O campo político não escapa. Em vez de representar o povo, parte dos líderes locais se alia a grupos econômicos e perpetua a desigualdade. A corrupção, o favorecimento e a falta de transparência transformam o poder público em instrumento de manutenção do status quo. A democracia se enfraquece quando o capital dita as regras do jogo.

O capitalismo tardio é, portanto, o retrato da contradição entre o desenvolvimento material e o retrocesso humano. Candeias, a Bahia e o Brasil vivem sob o domínio de um modelo que promete tudo, mas entrega pouco. A riqueza existe, mas está concentrada. O povo trabalha, mas não enriquece. O sistema produz, mas não distribui.

Romper com esse ciclo exige consciência coletiva, políticas públicas sólidas e coragem política. É preciso repensar o desenvolvimento, colocando o ser humano acima do lucro. Só assim o progresso deixará de ser privilégio de poucos e passará a ser direito de todos.

Candeias tem potencial para ser exemplo de transformação. O desafio é enorme, mas a mudança começa quando a cidade reconhece suas contradições e exige um novo modelo de gestão — mais justo, transparente e humano. O futuro de Candeias depende da coragem de romper com o passado de desigualdade e construir um novo caminho no presente.



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