O Governo Federal, por meio das projeções constantes no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2026, propôs um aumento significativo no salário mínimo, elevando-o para R$ 1.630,00. Isso representa uma alta de 7,37%, considerada uma das maiores da década, consolidando uma política de valorização real do salário mínimo, essencial para a sustentação das camadas mais pobres da população. A proposta foi construída com base nas estimativas do crescimento do PIB e da inflação, respeitando a nova política de valorização implementada na gestão do presidente Lula.
Enquanto isso, a cidade de Candeias, situada na Bahia, segue um caminho contrário à evolução nacional. Embora a arrecadação do município tenha registrado sucessivos recordes históricos, impulsionada por royalties do petróleo, repasses federais e aumento na cobrança de tributos municipais, a realidade salarial dos servidores públicos permanece congelada em valores desatualizados e defasados. Essa discrepância revela um profundo descompasso entre o crescimento da receita pública e a valorização do funcionalismo.
Há décadas, os servidores públicos municipais de Candeias enfrentam um cenário de arrocho salarial contínuo. O salário base da maioria das categorias, especialmente as ocupações de nível médio e fundamental, mal ultrapassa o valor do salário mínimo nacional, e frequentemente se aproxima de pisos indignos, que não acompanham a inflação, nem refletem a importância e a responsabilidade dos cargos exercidos. Isso resulta em uma perda contínua do poder de compra.
Esse fenômeno de achatamento salarial afeta diretamente o bem-estar das famílias de servidores. Sem reajustes justos e progressivos, os trabalhadores veem sua qualidade de vida deteriorar-se, enfrentando dificuldades para arcar com moradia, transporte, alimentação e educação. Muitos recorrem a empregos informais ou complementares, o que acarreta jornadas exaustivas e perda de produtividade nos serviços públicos.
Além dos impactos individuais e familiares, a desvalorização do servidor público repercute na economia local. O funcionalismo representa uma importante fatia do consumo no comércio da cidade. Salários baixos implicam em menor circulação de recursos, desaquecimento da atividade comercial e, por consequência, redução do dinamismo econômico de Candeias. Ou seja, o arrocho salarial compromete também o próprio crescimento econômico da cidade.
Outro reflexo direto é a queda na motivação e autoestima dos trabalhadores públicos, muitos dos quais desempenham funções essenciais, como professoras, merendeiras, recepcionistas, vigilantes, agentes de saúde, motoristas e tantos outros que mantêm a máquina pública funcionando diariamente. Sem reconhecimento institucional ou financeiro, o sentimento de desvalorização e negligência tende a se acirrar.
Do ponto de vista do desenvolvimento humano, os baixos salários da administração municipal afetam negativamente os indicadores sociais da cidade. O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), que leva em conta educação, renda e saúde, é impactado diretamente por políticas públicas de valorização profissional e distribuição de renda. A estagnação salarial implica menor investimento em educação e formação familiar, resultando em ciclos de pobreza persistentes.
A discrepância entre o avanço do salário mínimo nacional e a estagnação do funcionalismo em Candeias revela uma injustiça estrutural que precisa ser enfrentada com seriedade. Os servidores não devem ser tratados como despesas fixas descartáveis, mas como agentes fundamentais do desenvolvimento. A ausência de planos de carreira, a falta de políticas salariais de longo prazo e o abandono da meritocracia corroem o serviço público municipal.
Os exemplos nacionais mostram que a valorização dos trabalhadores públicos está diretamente ligada à melhoria dos serviços prestados. Municípios que investem em salários, formação continuada e incentivos colhem os frutos em termos de produtividade, inovação e atendimento à população. Em Candeias, entretanto, o cenário é de paralisia administrativa e ausência de perspectivas.
A falta de reajuste também infringe o princípio da irredutibilidade salarial e o direito constitucional à valorização do servidor público. O silêncio da gestão municipal frente às reivindicações das categorias representa um desrespeito institucional e uma quebra de confiança entre poder público e servidores.
Não se pode falar em desenvolvimento local sem reconhecer a importância dos recursos humanos que movimentam a gestão pública. Os trabalhadores são a base de toda política pública eficaz — seja na saúde, educação, segurança ou assistência social. Ignorar sua valorização é comprometer os objetivos sociais do município.
Enquanto o Governo Federal avança com políticas de inclusão, redistribuição de renda e valorização dos mais pobres, Candeias regride ao manter sua estrutura de remuneração congelada. O contraste entre as duas realidades é simbólico: de um lado, a tentativa de construir um país mais justo; de outro, a cristalização do atraso e da indiferença com o funcionalismo.
É urgente que a gestão municipal encare esse problema com responsabilidade e compromisso social. É inadmissível que em pleno século XXI, com recordes de arrecadação, a cidade mantenha trabalhadores essenciais em condições salariais tão precárias. Isso é uma escolha política, e não uma limitação financeira.
Por fim, é preciso lembrar que desenvolvimento não se mede apenas por obras e arrecadação, mas sim pela capacidade do poder público de incluir, valorizar e respeitar seus servidores. O retrocesso salarial em Candeias não é apenas um problema econômico, mas um sintoma de uma gestão insensível, que precisa urgentemente reavaliar suas prioridades se quiser romper com o ciclo histórico de estagnação.
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