Candeias: arrecadação milionária, empréstimos bilionários e o abandono do povo
O município de Candeias arrecada mensalmente mais de 60 milhões de reais, cifra que impressiona e coloca a cidade entre as mais ricas da Bahia em termos de receita pública. Apesar disso, a população sente diariamente que esses recursos não se transformam em qualidade de vida, muito menos em serviços básicos eficientes.
Para agravar ainda mais a situação, a atual gestão contraiu não apenas um empréstimo de 100 milhões, mas somando operações financeiras, a dívida chega a 200 milhões de reais. É um endividamento gigantesco que compromete o futuro da cidade, já que a conta desse valor será paga pelos próximos prefeitos e, em última instância, pela população.
Um empréstimo desse porte, com juros e encargos, pode facilmente ultrapassar 300 milhões de reais ao final do contrato. Isso significa que, além da arrecadação já milionária, parte significativa do orçamento futuro estará comprometida com o pagamento de parcelas, em vez de ser destinada à melhoria de serviços públicos.
A pergunta que ecoa entre os cidadãos é simples: se a prefeitura já arrecada tanto, qual a necessidade de contrair novos empréstimos? A gestão municipal ainda não apresentou de forma clara um plano detalhado que justifique tamanha dívida, tampouco explicou em que áreas esse dinheiro está sendo aplicado.
O contraste é gritante quando olhamos para a realidade dos servidores municipais. Candeias, apesar de sua riqueza em arrecadação, paga alguns dos piores salários-base da Bahia. Professores, agentes de saúde, garis e outros trabalhadores fundamentais sobrevivem com vencimentos que mal cobrem suas despesas básicas.
Esse cenário demonstra que a prioridade da administração não é valorizar o servidor público, que é quem mantém os serviços funcionando. Em vez disso, prefere endividar o município com empréstimos milionários que pouco refletem em melhorias no dia a dia da população.
Outro dado preocupante é o baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do município. Candeias, apesar de estar entre as cidades mais ricas em arrecadação, figura entre os piores indicadores sociais do estado. Isso revela a contradição brutal entre a riqueza que entra nos cofres da prefeitura e a pobreza que assola bairros e comunidades.
O IDH baixo significa que saúde, educação e renda da população estão em níveis insatisfatórios. Faltam médicos, escolas com estrutura adequada, oportunidades de emprego e políticas públicas que gerem dignidade. Em outras palavras, a arrecadação milionária não se traduz em desenvolvimento humano.
Enquanto isso, milhões de reais seguem entrando todo mês e pouco se vê de resultado. Ruas esburacadas, postos de saúde precários, escolas sem manutenção e comunidades esquecidas são a realidade de uma cidade que deveria ser modelo de progresso.
O Tribunal de Contas do Município (TCM) tem papel essencial nessa discussão. Cabe a ele analisar com rigor as contas da prefeitura e verificar se esses empréstimos milionários foram legalmente contratados, se estão sendo aplicados de acordo com a lei e se realmente trazem retorno social. O Ministério Público também deve ser provocado a investigar a destinação desses recursos, cobrando clareza, transparência e punindo qualquer irregularidade. Afinal, não é admissível que uma cidade com arrecadação e empréstimos milionários continue exibindo índices sociais tão vergonhosos.
A população de Candeias precisa compreender que esse dinheiro não pertence ao prefeito ou ao grupo político que está no poder. São recursos oriundos dos impostos pagos por trabalhadores, comerciantes e empresas. Portanto, é legítimo cobrar onde, como e com que finalidade cada centavo está sendo gasto.
O verdadeiro desenvolvimento não se mede pelo tamanho do orçamento, mas pela qualidade de vida do povo. Se a cidade arrecada muito, mas os moradores continuam recebendo serviços públicos precários, salários indignos e condições de vida abaixo da média, então a gestão fracassou em sua missão.
Candeias tem potencial para ser referência em gestão pública e qualidade de vida. Mas, para isso, é preciso romper com a lógica de arrecadar, endividar e não prestar contas. Enquanto persistirem a falta de transparência, os salários baixos e o abandono social, a pergunta continuará sem resposta: para onde vai a nossa arrecadação milionária todo mês do ano?
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